segunda-feira, 29 de setembro de 2008



Eu gosto do meu quarto e do som das cortinas batendo pela janela e do vento que sopra.
Eu gosto do escuro, do frio que sinto e da brisa suave quando elas estão...






O meu quarto fica muito maior com as janelas abertas.












A lua clareia e a cidade passa bem abaixo do meu rosto, tão iluminada
quando estou olhando pelas janelas assim, abertas.
A noite é longa a noite é luz e é escuridão.



Ela é o meu segredo, o meu eu sem medo olhando assim
pelas janelas



...





Com as janelas abertas.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Elevador II - Sobre aquele senhor.

Meu livro era novo, novinho... E como acontece sempre com as novas paixões, a gente não se largava por nada. Nem pra descer o elevador.
Até que numa quinta feira eu estava indo para o trabalho, entretida com o meu mais recente affair, quando aquele senhor entrou, apertou o número 2 e me cumprimentou.
Diante da interrupção respondi com um breve aceno de cabeça sem tirar o foco das palavras.
Não percebendo a minha impaciência ele resolveu alongar o assunto:
- Indo pra aula é?
Fui obrigada a levantar os olhos e me deparei com uma figura frágil e com uma aparência infantil apesar da idade.
- Não, tô indo trabalhar. Da aula eu já cheguei.
E continuei. Ele também:
- Isso mesmo menina, estuda e trabalha mesmo que é a melhor coisa que faz. Você que é jovem, lê uma coisa uma vez só e “pum!”, já entra na cabeça! Já eu ó, leio, leio, leio e num entra!
E batendo com as mãos na cabeça deu uma risada sonora.
Forçando uma simpatia escassíssima em mim naquele momento respondi:
- Que isso, não é assim não...
- Mas sabe que eu estudo até hoje?
- É?
- É, leio muito!
Percebendo que ele não iria parar até chegar ao seu andar, busquei um assunto e lembrei-me da figura do meu avô com sua eterna persistência.
- Que legal. Meu avô passou num concurso pra cartório com 70 anos, também não parou até hoje...
Assim que acabei de falar uma pontada de preocupação me perpassou. Será que eu havia intimidado o senhor?
- Poxa, que bacana! Eu to aí , com 82 anos e formei em filosofia ano passado!
Fechei meu livro na mesma hora. Definitivamente o que eu disse não intimidaria aquele homem. Comovida com o seu exemplo e envergonhada pela minha indiferença abri um sorriso enorme, parabenizando-o pela vitória.
- Que isso menina, obrigada! Ó, só menina. A gente vale pelo que sabe, e não pelo que tem!
O elevador parou no segundo andar.
Antes de sair, segurando a porta com as mãos ele olhou pra baixo, deu uma risada e disse:
-E conseqüentemente quem não sabe nada, não vale nada não é?
Deu de ombros e deixou que a porta se fechasse.


Pensei em vários finais, uns comoventes e outros até mesmo engraçados para terminar esta crônica. Mas decidi que ela vai acabar assim, direta e simples, como aquele senhor.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Taxi Drive




-Boa noite. É pra onde?
-São Mateus por favor.
-Se bem que à uma hora dessas, já é bom dia né não? Bom dia menina! Saindo a essa hora?
-É, eu trabalho aqui. É cansativo, mas tô gostando.
-Aham, sei como é que é. Eu também tô parando agora, você vai ser minha última corrida sabe? Tô atrasado já, mas queria arranjar corrida pra descer até perto de casa. Mas olha, que eu acho bacana ver menina nova assim que nem você trabalhando e correndo atrás, bacana mesmo!
-Ah é, muito bom a gente ter o nosso dinheirinho pra fazer nossas ... aqui, direita por favor.
-Tá, tá. Mas olha, eu não acho não. Trabalho pra caramba, cê vê, to parando na mesma hora que você e nunca sobra pra fazer nada! As crianças comem meu salário todo.
Risos.

Silêncio. O carro segue em direção à Independência.

-O senhor tem filhos é? Quantos?
-Tenho três, um de dezenove, um de seis e outro de quatro. O mais velho é da minha primeira mulher, que morreu. Porque eu sou viúvo né? A outra, que tá comigo agora eu conheci aqui, dentro do táxi. Pegou carona comigo um dia, e foi puxando assunto, aquela coisa toda, em dois meses “nóis já tava casado”!
-Nossa, que lindo! É bom assim né, um amor de repente!
-Bom nada, eu tô que não agüento mais. Casamos porque diz ela que engravidou, então sabe como é, tive que assumir e tudo. Mas eu queria era largar dela, cê desculpa eu falar assim, mas ô mulher chata! Mas agora tem os meninos e num tem jeito.
-....
-Pega no meu pé que é uma coisa só. Já, já tá me ligando. Outro dia atrasei numa corrida e tava sem bateria no celular. Cheguei em casa e já começou aquela falação!
-Ah, mas o senhor passa a noite toda fora né? Hoje então que o senhor ta atrasado, vai ter!
-Que o quê! Deixo ela falando pra lá e vou dormir, isso sim! Ó menina, eu vou te falar. É aqui, pela Romualdo né? Então, aproveita, trabalha e estuda bastante. Um bom descanso pra você.
-Pro senhor também, apesar de não saber que hora que você pára né...
-Ué agora, você é minha última corrida, esqueceu?
-É mesmo! Então ta ótimo! Bom dia pro senhor e boa sorte na volta pra casa. [risos]
-Ih, obrigada! Mas tudo bem, deixa ela vir cantar de galo pra cima de mim, deixa vir...
Ela vai ver...
.....

Fui dormir imaginando o taxista chegando em casa. Aposto que, assim como eu, ele chegou, mudou de roupa, deitou na cama e foi dormir. E que ela não deu a mínima.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Fotografias, cachaça, erva e amizade.

E nas manhãs cinzentas que parecem tardes descobri de novo a beleza de olhar o céu. De me ver refletida na tela do computador vidro espelho janela. Janela da alma. De sorrir no escuro dentro de mim por saber quanta luz ainda está por vir. De achar graça até (quem sabe?) da saudade da casa que eu ainda não tenho. De chegar lá à noite, cansada, satisfeita e sincera. Fotografias, cachaça, erva e amizade me esperam.

Essa luz de fim de tarde dentro de mim que me aquece. Que tem gosto de sorriso escondendo tristeza, de amigos tampando a solidão e de olhares cheios de intenções (e palavras também).





Mas sorrio, pela manhã que ainda está por vir.