segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Acredito que todos os verdadeiros gênios que já passaram pela terra morreram com uma enorme sensação de irreconhecimento. A frustração é inerente à genialidade. Muitos deixaram pouquíssimo de si por acharem que ninguém os compreenderia, ou que seus leitores eram ignorantes demais para experienciar a verdadeira profundidade do que diziam ou sentiam.
Todos aqueles que deixaram este mundo julgando ter expressado e sentido o máximo de si são pobres, muito pobres e tinham pouquíssimo a dizer.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

E só peço que me deixem assim
quietinha no meu canto,
cuidando de minhas asas e
sonhando sonhos de paz.
Como se todo o barulho dessa orquestra
pudesse ser apenas
o pio discreto
de um passarinho só.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Pelo direito ao "desamarro".


Detesto cadarços desamarrados. Não porque eles me incomodem, mas pelo contingente de pessoas que te aborda na rua pra te alertar do perigo iminente que você corre pela falta do lacinho nos pés.
Hoje eu estava parada no ponto de ônibus com uma pilha de livros na mão, quando percebi meus cadarços soltos. Infelizmente não fui a única.
-Moça, seu tênis tá desamarrado.
Por quê diabos sentimos a necessidade de dar explicações pra passantes intrometidos?
-Eu sei, obrigada. É que estou esperando o ônibus chegar pra amarrar na cadeira.
E foi-se. Logo em seguida avistei meu ônibus parado no sinal lá no comecinho da rua e....
-Menina, seu cadarço tá desamarrado.
Respondi a um senhor de óculos, entre irônica e desanimada, que esperaria o ônibus pra apoiar o material.
O senhor não moveu o semblante. Continuou grave e preocupado, quase tomando o material das minhas mãos. Era caso de segurança nacional.
-Então dá cá esse material que eu seguro antes que você tropece por aí.
Sem mais sorrisos ou educação, puxei meus livros e saí. Meu ônibus está ali!
Fui pra casa um pouco irritada, pensando porque as pessoas se preocupam tanto. Consigo andar tranquilamente ruas e mais ruas com meu cadarço desamarrado. É só não ser disléxico que você consegue.
Já na entrada do meu prédio, esperei uma senhora que vinha correndo pra me alcançar antes que o elevador subisse. Apesar do mau-humor, me esforcei pra ser simpática nos cumprimentos.
Abre a porta daqui, comenta do frio dali...
- Ô mocinha, seu cadarço ó. Tá solto.
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Segue abaixo uma dica pra quem não quer mais passar raiva como eu. Repare o recado agradecido logo abaixo da instrução, que deve ser direcionada à indivíduos entre 2 e 3 anos.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passaOu quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés
– O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma...

Alberto Caeiro
De uma forma bem Caeirista escrevo pra escrever.
Porque a escrita não é nada se não a própria escrita
e eu não sou nada além de mim mesma.
E todos os meus 45 outros eus.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008



Eu gosto do meu quarto e do som das cortinas batendo pela janela e do vento que sopra.
Eu gosto do escuro, do frio que sinto e da brisa suave quando elas estão...






O meu quarto fica muito maior com as janelas abertas.












A lua clareia e a cidade passa bem abaixo do meu rosto, tão iluminada
quando estou olhando pelas janelas assim, abertas.
A noite é longa a noite é luz e é escuridão.



Ela é o meu segredo, o meu eu sem medo olhando assim
pelas janelas



...





Com as janelas abertas.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Elevador II - Sobre aquele senhor.

Meu livro era novo, novinho... E como acontece sempre com as novas paixões, a gente não se largava por nada. Nem pra descer o elevador.
Até que numa quinta feira eu estava indo para o trabalho, entretida com o meu mais recente affair, quando aquele senhor entrou, apertou o número 2 e me cumprimentou.
Diante da interrupção respondi com um breve aceno de cabeça sem tirar o foco das palavras.
Não percebendo a minha impaciência ele resolveu alongar o assunto:
- Indo pra aula é?
Fui obrigada a levantar os olhos e me deparei com uma figura frágil e com uma aparência infantil apesar da idade.
- Não, tô indo trabalhar. Da aula eu já cheguei.
E continuei. Ele também:
- Isso mesmo menina, estuda e trabalha mesmo que é a melhor coisa que faz. Você que é jovem, lê uma coisa uma vez só e “pum!”, já entra na cabeça! Já eu ó, leio, leio, leio e num entra!
E batendo com as mãos na cabeça deu uma risada sonora.
Forçando uma simpatia escassíssima em mim naquele momento respondi:
- Que isso, não é assim não...
- Mas sabe que eu estudo até hoje?
- É?
- É, leio muito!
Percebendo que ele não iria parar até chegar ao seu andar, busquei um assunto e lembrei-me da figura do meu avô com sua eterna persistência.
- Que legal. Meu avô passou num concurso pra cartório com 70 anos, também não parou até hoje...
Assim que acabei de falar uma pontada de preocupação me perpassou. Será que eu havia intimidado o senhor?
- Poxa, que bacana! Eu to aí , com 82 anos e formei em filosofia ano passado!
Fechei meu livro na mesma hora. Definitivamente o que eu disse não intimidaria aquele homem. Comovida com o seu exemplo e envergonhada pela minha indiferença abri um sorriso enorme, parabenizando-o pela vitória.
- Que isso menina, obrigada! Ó, só menina. A gente vale pelo que sabe, e não pelo que tem!
O elevador parou no segundo andar.
Antes de sair, segurando a porta com as mãos ele olhou pra baixo, deu uma risada e disse:
-E conseqüentemente quem não sabe nada, não vale nada não é?
Deu de ombros e deixou que a porta se fechasse.


Pensei em vários finais, uns comoventes e outros até mesmo engraçados para terminar esta crônica. Mas decidi que ela vai acabar assim, direta e simples, como aquele senhor.